Costumo visitar o cemitério onde
jaz o corpo daquela moça deteriorado pelos vermes, é notável que seu romantismo exacerbado
marcou seus poucos anos de existência neste mundo medíocre, a jovem faleceu por
excesso de sentimentos doces, seu coração não suportou a abundância de amor
platônico. Ela era meiga, melosa, sorridente, exalando ternura ao recitar as
mais belas cantigas lírico-amorosas trovadorescas. Todo dia 22 de cada mês
venho aqui rogar-lhe que me ensine a descobrir este sentimento, pois num futuro
bem próximo eu venha morrer com um dos diagnósticos mais notórios do século,
insuficiência de doçura no coração, ou melhor dizendo, deficiência de amor.
Imploro em meio a soluços, as lágrimas corroem a lápide, marcando o desespero
insano desta desalmada, grito por vida. Creio que meus desejos não serão
atendidos, porém, quando enfim a morte me convidar a seguir para um mundo
distante, estarei aqui rogando uma mísera fagulha de amor, pois deste modo
poderei incendiar meu coração com o sentimento mais idolatrado pelos humanos
nos séculos XVIII e XIX.
Carmen D’lenheva
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